Há dez anos, um bestiário nasceu no Museu da Cidade, no Campo Grande. Aos bruxos e pavões, juntaram-se vespas, cobras, lagartos, cegonhas, macacos, cogumelos, lagostins… Vieram das Caldas da Rainha, da Fábrica de Faianças Artísticas Bordallo Pinheiro. Mas, já existiam desde 1889, quando o ceramista decorou salas na Exposição Universal de Paris. Os moldes, apesar de antigos, ainda são capazes de dar um toque fantástico a um pequeno jardim labiríntico.

Fotografia: Paulo Primaz

As portas abrem-se e é a fábula do lobo e da cegonha que nos espera. Tanto virando para a direita como para a esquerda, o início desta viagem animalesca coincidirá sempre com o fim: o bico da ave na garganta do predador.

Fotografia: Paulo Primaz

Há vinte anos, a fábrica de Bordallo Pinheiro decidiu recuperar o património do mestre (que há um século estava abandonado num armazém) e reproduzi-lo para venda. Muitos moldes estavam partidos, outros podres e alguns incompletos. Teve-se de pôr barro em todas as formas, para se perceber o que era o quê. Cobras, lagartos, macacos, caracóis, lagostins, … Todo o bestiário foi recuperado assim. Passo-a-passo. Do mais pequeno para o maior.

Fotografia: Paulo Primaz

A ideia de juntar os bichos num jardim remete-nos para 2008. Nessa altura, a Fábrica de Faianças Artísticas Bordallo Pinheiro estava a atravessar uma grande crise. As encomendas estavam a decrescer. Os salários por pagar. E Catarina Portas, dona d’A Vida Portuguesa, pensou que poderia ajudar a fábrica, construindo um jardim com peças do ceramista. De imediato, começou a idealizar um jardim encantado e labiríntico.

Fotografia: Paulo Primaz

O logótipo da fábrica – sapo – não poderia ficar de fora deste imaginário.

Fotografia: Paulo Primaz

As ideias surgiram através de fotografias da Exposição Universal de Paris de 1889 e do jardim que está ao pé da fábrica do artista. Neles há animais em todo o lado. Não só em telhados ou chaminés, como acontecia antes.

Fotografia: Paulo Primaz

A adoração de Bordallo Pinheiro por gatos tornou os felinos protagonistas das suas peças e desenhos. O artista chegou a confessar no jornal “António Maria” que noutra encarnação tinha sido um. O temperamento volátil deste Pires imortalizou-o como o “Gato Assanhado”.

Fotografia: Paulo Primaz

Numa viagem ao Brasil, o ceramista trouxe um macaco. O Basílio passava o dia no ombro do dono e vivia no jardim da primeira fábrica de Bordallo Pinheiro.

Fotografia: Paulo Primaz

O artista chegou a fazer moldes a partir de animais verdadeiros, para que o pêlo dos lobos ou as escamas dos peixes fossem o mais reais possível.

Fotografia: Paulo Primaz

Todos os animais do jardim tiveram origem na capital francesa de 1889. O rei D. Carlos pediu ao ceramista para decorar algumas salas portuguesas na Exposição Universal de Paris e os animais gigantes começaram a ganhar vida na sua mente. Pendurou lagostins no tecto. Pôs caracóis a subirem as paredes. Fez de cogumelos bancos.

Fotografia: Paulo Primaz

Antes do bestiário vir para o Museu da Cidade, o jardim estava abandonado. As portas estavam fechadas. As plantas mal cuidadas. E as fontes não funcionavam.

Fotografia: Paulo Primaz

A faiança é o denominador comum de toda a bicharada. Natural da zona das Caldas da Rainha, esta pasta de argila é mais calcária e maleável. No entanto, não aguenta altas temperaturas como a normal.

Fotografia: Paulo Primaz

Cada animal é composto por vários moldes. Só o lagostim tem 40. É dos bichos mais difíceis de se reproduzir, devido às formas curvas, e patas e antenas finas.

Fotografia: Paulo Primaz

Na Exposição Universal de Paris, a Fábrica de Faianças Artísticas é premiado com o primeiro lugar e Bordallo Pinheiro com o grau de Cavaleiro da Legião de Honra.

Fotografia: Paulo Primaz

Meses passam até os animais estarem prontos. Primeiro, os moldes são preenchidos por barbotina (barro líquido quente). Depois, são tirados e os bichos secam. A qualidade do barro é examinada de seguida. Peça por peça. E os defeitos são apontados com uma caneta de feltro. Se não tiverem nenhum, vão ser ornamentadas e limadas.

Fotografia: Paulo Primaz

O toque fantástico e encantado é conseguido no processo da vidração. A bicharada fica brilhante e com as cores muito vivas. A seguir, é pintada à mão e posta a cozer, no forno.

Fotografia: Paulo Primaz

Só se consegue ver se a vespa ficou bem cozida, dois dias depois. Caso tenha ficado bem, repousa durante quatro meses. Caso não, é partida e recomeçada.

Fotografia: Paulo Primaz

Recriação bordalliana da fábula sobre o lobo e a cegonha. A ave estava a voar, quando foi chamada pelo lobo. O predador tinha comido tão rápido que se engasgou com um osso. A cegonha tentou tirar-lhe o osso da garganta com o bico e, de seguida, pediu-lhe uma recompensa. Mas, o lobo ensinou-lhe que a humildade de não a ter comido já era recompensa suficiente.