Figura marcante das letras portuguesas, tanto da poesia — uma das figuras do emblemático grupo Poesia 61 — como do romance ou, ainda, do jornalismo, a literatura é, para Maria Teresa Horta, um exercício de sublimação e de liberdade. Figura central do feminismo português, nunca fez dela um uso panfletário, mas assume-se como uma voz libertária e cuja obra literária toma como temas essenciais o amor, o desejo erótico, o corpo (da mulher), a sexualidade e a pura fruição da palavra. Em Maio, a Faculdade de Letras de Lisboa, onde estudou, vai homenageá-la com a realização de um congresso internacional, intitulado “Maria Teresa Horta e a Literatura Contemporânea: De Espelho Inicial (1960) a Estranhezas (2018)”, entre os dias 8 e 10 de Maio.

Ontem, 13 de Abril de 2019, o Viver Alvalade teve o gosto e o privilégio de agendar para breve uma entrevista de vida com a escritora e de a ouvir reviver, no presente, as histórias que foi vivendo, presenciando e sentindo ao longo da sua vida. Um reviver no presente cheio de vida, de emoção, de sentido de futuro. Foi durante o evento “Encontro com Escritores”, organizado pela Biblioteca Manuel Chaves Caminha, em Alvalade, e moderado por José Mário Silva.
As “Novas Cartas Portuguesas”, livro publicado em Abril de 1972, foram, obviamente, parte integrante desta conversa. Recorde-se que foi em Lisboa, em Maio de 1971, que Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa decidiram escrever um livro a seis mãos. Cada uma das autoras havia publicado já livros marcados por uma forte dimensão política, que desafiavam os papéis sociais e sexuais esperados das mulheres. Em “Maina Mendes” (1969), de Maria Velho da Costa, a protagonista, Maina, perde a fala, reinventando uma outra, nova. Em “Os Outros Legítimos Superiores” (1970), de Maria Isabel Barreno, é denunciado o silêncio simbólico das mulheres, até pela atribuição do nome genérico ‘Maria’ a todas as personagens femininas. Em “Minha Senhora de Mim” (1971), de Maria Teresa Horta, a voz poética, claramente identificada como feminina, reivindica para si o direito de falar do corpo, do desejo e da sexualidade da mulher.

Ouvir hoje, 47 anos depois, relatos emocionantes e cheios de vida de um tempo que, tendo sido duro para Portugal, foi igualmente rico em acontecimentos que mudaram o curso da História foi – acreditem – um privilégio. Ouvir Maria Teresa Horta discorrer sobre insubordinação, conhecimento, liberdade, a revolta contra a ignorância, a defesa do saber e do questionar constantemente para aprender, para compreender, para evoluir, foi um momento de reflexão sobre o presente – um tempo onde estes temas (por motivos completamente diferentes) continuam presentes no nosso dia a dia e na nossa sociedade. E ouvi-la em Alvalade, um território que tanto lhe diz, foi deveras estimulante. Sobretudo, porque Maria Teresa Horta mantém a sua convicção e coragem de sempre. Mantém a aversão à ignorância, ao desconhecimento, como formas de submissão. “Prefiro a verdade horrível à ignorância. O fascismo obrigava as mulheres à ignorância, motivo pelo qual o ´porquê´ foi sempre uma palavra presente e viva em mim”, disse, para acrescentar logo a seguir “no dia em que abdicar desta maneira de ser, deixo de fazer poesia.”
Mas, acreditamos e desejamos aqui no Viver Alvalade, que a poesia se vai manter, porque Maria Teresa Horta, que é uma força da natureza, também afirmou convicta neste encontro: “Eu sou eu. Não mudei. Mantenho a insubordinação e a rebeldia em mim”. Que assinatura de vida, que mote para o presente e para o futuro!

FIGURA MARCANTE DA LITERATURA CONTEMPORÂNEA
Maria Teresa Horta frequentou o Liceu D. Filipa de Lencastre. Estudou na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Dedicou-se ao cine-clubismo, como dirigente do ABC Cine-Clube, ao jornalismo e à questão do feminismo tendo feito parte do Movimento Feminista de Portugal juntamente com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, as Três Marias. Em conjunto lançaram o livro Novas Cartas Portuguesas, que, na época, gerou forte impacto e contestação.
Publicou diversos textos em jornais como Diário de Lisboa, A Capital, República, O Século, Diário de Notícias e Jornal de Letras e Artes, tendo sido também chefe de redacção da revista Mulheres. Esta revista, um projecto pessoal de Maria Teresa Horta, consistiu num projecto feminista, de forte cunho essencialista.
Em 2004 foi feita Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique pelo Presidente da República Portuguesa, Jorge Sampaio.
Foi galardoada com o Prémio D. Dinis 2011 da Fundação Casa de Mateus pela sua obra “As Luzes de Leonor”.
É casada com o jornalista Luís de Barros, de quem tem um filho, e vive em Alvalade.