É uma história antiga que haveremos de contar em breve, mas como acabámos de a conhecer, não resistimos à sua partilha. Porque hoje se comemora o 25 de Abril e porque Abril passou e passa por aqui, por Alvalade.
Para além do 1 de Maio de 1974, que para a semana assinalaremos aqui no Viver Alvalade, também “o dia mais bonito dos últimos 45 anos” passou por aqui, pelo bairro.

Conta-nos o Jornal da Praceta (www.jornaldapraceta.pt) que a escolha da “senha” do 25 de Abril foi feita em Alvalade, “onde tinha escritório o programa “Limite”, que pôs no ar a célebre canção Grândola Vila Morena”, de Zeca Afonso. Este escritório situava-se no último andar de um dos prédios da Praça de Alvalade.
Ora bolas … este tema é poderoso e hoje não o poderíamos deixar passar em claro. Prometemos ir conhecer mais pormenores em breve, para que a história seja bem contada.
De um artigo publicado no Diário de Notícias, por ocasião dos 25 anos do 25 de Abril, e assinado por Carlos Albino, um dos membros do programa Limite, retirámos a resenha história que abaixo partilhamos:
22 de Março. Informação inicial sobre a inevitabilidade de uma senha por rádio com efectiva cobertura nacional para o arranque dos quartéis.
29 de Março. Ensaio no Coliseu (festival da Casa da Imprensa) sobre a aceitação de Grândola. O festival foi gravado e transmitido em diferido pelo Limite.
23 de Abril, fim de manhã. Álvaro Guerra é o elemento de ligação com Carlos Albino, a quem pede a transmissão da canção Venham mais Cinco no Limite de 25 de Abril. Carlos Albino pede a Álvaro Guerra para devolver a resposta de que tal canção estava proibida pela censura interna da Renascença embora a censura oficial a tolerasse. Sugeridas alternativas, entre as quais Grândola.
24 de Abril, 10 horas. Álvaro Guerra novamente serve de elo de ligação de Almada Contreiras com Carlos Albino, a quem comunica a escolha definitiva de Grândola Vila Morena como senha para o movimento militar. Carlos Albino garante a transmissão.
24 de Abril, 11 horas. Carlos Albino adquire na então Livraria Opinião, a Madeira Luís, o disco “Cantigas de Maio” para garantia. Desde Dezembro de 1973, havia indícios de que a PIDE preparava o assalto dos escritórios do Limite, na Praça de Alvalade.

24 de Abril, 15 horas. Encontro decisivo com Manuel Tomás, para a execução da senha e garantia de transmissão face às duas censuras que o Limite enfrentava: a da Rádio Renascença e a oficial (um coronel que acompanhava as emissões em directo e visava previamente os textos). Carlos Albino e Manuel Tomás decidem sair dos estúdios para um local onde possam prosseguir com segurança o diálogo.
24 de Abril, 15 e 30. Ajoelhados na Igreja de S. João de Brito e simulando rezar, Carlos Albino e Manuel Tomás combinam todos os pormenores técnicos da senha.
24 de Abril, 17 horas. Leite Vasconcelos (em dia de folga na locução do Limite) é convocado por Manuel Tomás para “gravar poemas”. Carlos Albino escreve textos para serem visados pelo censor.
24 de Abril, 19 horas. Censor autoriza textos e alinhamento.
24 de Abril, 20 horas. Na Renascença, gravação dos textos por Leite Vasconcelos, desconhecendo o objectivo.
25 de Abril. Aos 20 minutos e 19 segundos, arranque da fita com a senha. Carlos Albino e Manuel Tomás retiram-se da Renascença às 3 e 30.

E porque a liberdade também se celebra – e bem – recordando a história, deleitem-se com este trabalho da RTP sobre o Dia da Liberdade http://media.rtp.pt/ashorasdecisivasdeabril/